29 setembro 2008

Brian Jones, from O Modernista


Terceiro (e para já, último) capítulo da colaboração com o fanzine O Modernista, desta feita publicamos um artigo sobre Brian Jones.

Brian jones
O Rolling Stone original. O fundador da banda, fanático de R&B, multi-instrumentista, que só queria fazer a melhor banda à face da terra…e nunca sequer pensou em opôr-se aos Beatles…O mais mod dos Stones! Long Live Brian Jones e todos os discos dos Stones (de 63 a 66)!

Nascido no último dia de Fevereiro de 1942 (fosse ano bissexto e fazia anos de 4 em 4) em Cheltenham – arredores de Londres - filho de um engenheiro de aviação e duma professora de piano. Das duas irmãs uma morreu nova por doença, e dos ensinamentos que teve em casa, um deles foi que a irmã tinha sido levada para um sítio muito mau, e que ele se não se portasse bem havia de ir lá parar também…

Louro, sempre penteado, de cabelo cuidado, olhos verdes-acizentados…Jones nunca se coibiu de fazer trinta por uma linha na sua vida. Aos 16 tem um filho, aos 17 outro e por aí fora numa sucessão de descendentes que acaba aos 5, mas que também pouco interessa para aqui. Facto: Jones era apaixonado e devoto por tudo o que fazia, dedicado e obsessivo por tudo aquilo em que se envolvia…e é pelo legado da música que percebemos isso.

Aos 15 anos, Jones começa por tocar numa banda de skiffle na escola e um ano depois já toca saxofone num combo de jazz local…3 anos depois, é guitarrista de um conjunto de bandas de jazz em Cheltenham e reparte essa ocupação com uma série de trabalhos menores durante o dia, entre eles alguns para chatear os pais!

Em 1961, faz viagens de fim de semana regulares a Londres onde se envolve na cena blues local e se mistura com vários músicos, entre eles Paul Jones (mais tarde vocalista dos Manfred Mann), com quem ainda forma uma banda de ocasião, trampolim para outros voos.

Ao ver um concerto de blues eléctrico de Alexis Korner, a sua vida muda completamente. Primeiro por perceber o que quer fazer, depois por conhecer Korner pessoalmente. Ao visitar Korner em Londres, acaba por conhecer uma série de outros músicos, compra uma guitarra e dedica-se a tocar noite e dia até atingir o nível que quer. No início de 1962, Korner começa uma noite regular de R&B com a sua própria banda e Jones participa numa dessas noites com uma versão de “Dust My Broom” do seu herói Elmore James!

Entre a assistência estão Keith Richards e Mick Jagger. Impressionados como que vêem falam com Jones, que expõe o seu plano – fazer uma banda, mas nada de aberturas para outros! Vocalista: Paul Jones (desculpa lá Mick, não há lugar para ti!). Prosseguem caminhos separados por mais uns tempos....

Pelo meio, Brian recruta o baterista Stu Stewart através de anúncio no Jazz News e começam a ensaiar com Paul Jones. Mais tarde este sai e prosseguem com um outro cantor/tocador de harmónica, mas este também sai…é que ao que parece ninguém o aturava muito tempo! Diz a história que Jones era um ladrãozeco de cigarros, e que os donos dos pubs fartos da brincadeira não o queriam por perto.


Os Stones de Brian Jones
Stu convida Jagger, que aparece no ensaio acompanhado de Keith Richards e Dick Taylor. Os 3 encaixam na ideia de Jones e é aqui que nascem os Rolling Stones! A estreia ao vivo é no Marquee em 12 de Julho com Mick Avory (mais tarde dos Kinks) na bateria. Mas este foi uma solução de recurso…Brian queria o experiente Charlie Watts na bateria.

No Outono de 1962 e com Brian na liderança da banda os Stones fazem as suas primeiras gravações no estúdio de Curly Claiton. Seguem-se tempos de austeridade em que quase reclusos do seu apartamento de Chelsea, Jones e Richards tocam dia e noite até fazer bolhas, e é daí que resultam os arrebatadores riffs dos Stones, que fazem dos primeiros discos obras primas de R&B.

Em Novembro e Dezembro do mesmo ano, e num ambiente dominado pelos clubes de Jazz, com pouco espaço para a nova corrente de R&B britânico que começava transpirar por todos os lados, Jones, consegue uma residência permanente no Ealing Jazz Club, e vários concertos no Marquee, no Piccadilly e no Flamingo, em pubs e dancehalls nos arredores de Londres!

A abertura do Crawdaddy, o primeiro clube da nova geração, dirigido pelo jovem fã de blues Giorgio Gomelsky, é o ponto de viragem dos Stones! Um novo clube, com uma nova dinâmica, que cedo se há-de tornar num dos hot spots da nova Londres… a Swinging London!

Brian Jones tratava de tudo. Marcava concertos, divulgava a banda nos media, fazia as contas.
Tudo a correr bem….mas os Stones sem disco!
Brian Jones nos Stones
Assinam então um acordo com o promotor Andrew Loog Oldham em Maio de 1963… Jones sabia que Oldham havia de catapultar a carreira dos Stones rumo ao disco e ao que mais houvesse além disso, mas não esperava o que se seguiu...

Oldham faz dos Stones o oposto dos Beatles, secundariza o papel de Jones em detrimento de Jagger como líder e sex-symbol! Depois dá indicações precisas para que Mick e Keith escrevam as músicas, retirando a Jones a direcção artística da banda…e cria até intrigas para ostracisar Brian Jones dentro da banda. Mas era Brian o favorito do público. A prová-lo o tempo de antena na televisão e o correio de fãs. Jones defendia até à exaustão o espírito dos covers de R&B, que foram os primeiros hits da banda e congratula-se com o primeiro disco, nº. 1 no início de 1964… Depois vêm os sucessos da dupla Jagger/Richards, entendidas por Brian como comerciais… e acaba aqui o papel activo de Brian Jones nos Stones.

Desde então, Brian não mais é consultado na construção das músicas. As suas partes nas gravações eram cortadas, abafadas ou nem sequer faziam parte das misturas finais. Não mais aparece em entrevistas. O seu papel limita-se a dar côr e exotismo às músicas através das suas aptidões para tocar os mais variados instrumentos, mas a direcção musical dos Stones já não é definitivamente sua. Já não são os Rolling Stones, são outra coisa qualquer, que certamente passou pela apoderação de um conceito e diluição das referências originais!

Tudo isto e o correr dos anos fazem com que Jones vire as suas atenções para outras coisas, e direccione as suas aptidões musicais para outros géneros e outras pessoas…È figura de proa da psychedelia com Hendrix, tem as suas experiências marroquinas com os restantes Stones, e é aí que dá inicio a um projecto editado postumamente em 1972 chamado Brian Jones Presents the Pipes of Pan at Joujouka!

Jones fica nos Rolling Stones até 1966 (ano mítico e de viragem na cena mod inglesa…) e participa em todos os discos até então, dando o toque experimentalista aos discos e tocando os mais variados instrumentos (das marimbas às citaras). e nesse ano faz a última tour americana com os Stones.

Jones participou ainda nas gravações do Sgt. Peppers com os supostos arqui-rivais Beatles (Toma Oldham!). Apesar da música em questão “You know my name (look up the number)” não ter constado do alinhamento final do disco, pode no entanto ser encontrada no Past Masters Volume 2 ou na Antologia 2...ehem dos Beatles!

Brian Jones... A rolling stone
Depois, é uma espiral de má memória, com muitas drogas e desgostos amorosos à mistura. História triste, muito triste... como triste foi o assassinato artístico de Brian Jones por Oldham.

…E quase 3 anos depois de deixar os Stones...em 1969, Jones foi fazer companhia à irmã, numa história nunca clarificada e ainda hoje por explicar. Daí o mito em torno de Brian Jones.

Para nós terrenos e fãs de música, do “Rollling Stones” ao “Aftermath” é de ouvir tudo com atenção e descobrir onde é que anda o Brian Jones ...e insistir no “Rolling Stones” , não só porque é muita bom só por si, mas também porque é aquele em que Jones se reviu como artista e já agora, aquele em que os Rolling Stones foram mesmo Rolling Stones!

publicado originalmente n'O Modernista, por José Mourinho.

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