22 julho 2008

MARY QUANT, from O Modernista

Segundo capítulo da colaboração com o fanzine O Modernista, desta feita publicamos um artigo sobre Mary Quant.


Para sempre ligada à mini-saia, Mary Quant foi muito mais que isso! Foi um símbolo de libertação da mulher, social e profissionalmente. Uma história original dos 60’s, porque só podia acontecer nos 60’s.

Mary Quant era mulher e em meados da década de 50 isso não facilitava nada as coisas. A menos que algo que escapasse a todos os homens e que quebrasse uma tradição com cheiro a mofo daí viesse…e Quant tinha-o!

No optimismo vigente, jovens com empregos e algum dinheiro juntavam esforços com outros talentosos à espera duma oportunidade de se iniciarem nas suas próprias lides por conta e risco. Archie McNair era um desses jovens. Foi ele que em 1955 meteu as 8.000 libras necessárias para que Quant e o seu amigo Alex Plunket Greene, um fanático de jazz, encontrassem um espaço em King’s Road suficientemente grande para abrir os seus negócios. Quant ficou com o piso térreo e abriu a Bazaar! Plunket Greene ficou com a cave e abriu o clube de jazz com que sonhara.

Quando a Bazaar abriu, King’s Road era uma zona de padarias, mercearias, talhos e peixarias, 10 anos depois a zona seria uma referência da Swinging London, a par com Carnaby Street. Mercados diferentes, contudo! Adiante…

Nesses dias a montra da Bazaar eram pijamas e alguns chapéus que Quant havia desenhado. Os pijamas coloridos, amaricados para a mentalidade vigente, foram fotografados e mais tarde comprados por um americano que os queria imitar no EUA. Quant teve receio de que as suas criações mudassem de mão, mas encontrou nisso a inspiração para fazer novos modelos. Comprava tecidos estampados no Harrods e juntava-os de acordo com as suas concepções. A escolha ía para tecidos até então pouco associados a roupa de mulher…e isso só de si já lhe garantia inovação. Depois era trabalhar muito no seu quarto, acumulando stocks suficientes para que pudesse repor o que vendia no dia antes. Dizia ela que eram roupas para o seu modo de vida ou o de qualquer pessoa que vivesse em Chelsea - alí, paredes-meias com o Soho, zona boémia e portanto dada à absorção das novas tendências, mas volátil. Claro que para uma criativa como Quant isso era um desafio!

A loja crescia vertiginosamente de dia para dia. As razões estavam tanto no conceito da loja,
como nos modelos de Quant. Pois! Quant inventara a roupa que distinguia as raparigas das mulheres, com o garrido das cores era impossível resistir e não ir ver mais de perto, e não eram raros os rapazes que lá levavam as namoradas e as encorajavam a comprar. Isto não era possível antes. A juntar-se a isto, o clube de jazz na cave…onde Quant, Plunket Greene e os amigos se entretinham em conversas e copos, o que não raras vezes resultava em encerramentos tardios…por volta da meia noite...

O render do público à ideia fazia esgotar os stocks…A necessidade de os repor aliada à disposição de Quant e aos materiais disponíveis fazia com que a loja surpreendesse a cada dia que passava. A loja passou a ponto de referência nas deambulações das jovens raparigas de Chelsea…e as montras chegavam a mudar 2 e 3 vezes por dia. Apareciam então as mini-saias, os vestidos e fatos em cores vivas, polka dots e riscas completamente avessos à outrora venerada alta costura francesa, agora tida como retrógada.

Na cave, Plunket Greene faz do clube de jazz, um bistro francês. Chama-lhe Alexander’s e seria um dos primeiros restaurantes “trendy” de Londres. muita classe e sofisticação, a apelar aos clientes da loja no piso superior. Oh! Roupa e comida, claro que sim! Vamos embora...

Pela inovação que traziam a um tecido comercial antiquado, Quant e Greene eram vistos como degenerados. Mas a persistência e o crescente sucesso, fizeram com que todos se rendessem e lhes chamassem “uma pedrada no charco”.

Em 1963 Quant tem ainda um contributo decisivo nos cortes de cabelo. Ao convidar Vidal Sassoon para cabeleireiro num desfile das suas criações, e sabendo das suas inovadoras ideias, Quant sugere que Sassoon faça algo de novo para o desfile. Sassoon fica surpreendido com o pedido, mas mais fica quando Mary se põe nas suas mãos como cobaia e diz “Fazes-me a mim. Se correr bem fazemos o mesmo corte a todas!”. Nascia o bob haircut!

O tempo encarregar-se-ia de ver o negócio crescer e proliferar e em 1964, Quant liga o seu nome à indústria dos cosméticos e lança uma marca própria no mercado americano… em meados da década os lucros das suas empresas ascendem a 12 milhões de libras por ano!

OK! Em 9 anos, Quant abrira uma loja e modificara o visual feminino - a roupa, o cabelo, a cara - mas não é isso que a faz parar e por esta altura às mini-saias e aos vestidos juntar-se-iam as gabardines, os vestidos e os chapéus em PVC!

Para Quant a mulher com estilo era “sexy, bem disposta e arejada”. As suas roupas representavam isso. Vidal Sassoon, dizia que o atelier dela era a rua.
Em reconhecimento pelo seu contributo para a economia e projecção do Reino Unido no mundo… é agraciada pela Rainha...como os Beatles!


publicado originalmente n'O Modernista, por José Mourinho.

1 comentário:

Anónimo disse...

só agora ao ler é que vi que não foi posto o comentario sobre mulheres cheias de ouro. dizia a mary quant que isso da a imagem da mulher a quem todos dão presentes, mas com quem ninguem quer ficar...

ha quem ache que isto é revivalismo. para mim é actualidade!

jose m